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quinta-feira, 12 de julho de 2007


A ALQUIMIA POÉTICA
DE ZACARIAS MARTINS

POR NELSON HOFFMANN
As Letras deram-me um amigo a quem chamo de irmão: o Mano Zaca. Ele mora em Gurupi, Estado do Tocantins, e é um cara agitado, parece que nunca pára quieto. Ou, talvez melhor, está sempre em todos os lugares, comparece em todas as frentes, tudo ao mesmo tempo, é um ubíquo... É possível ser ubíquo? Se é, o Mano Zaca é. O nome é Zacarias Martins e ele vem da distante cidade de Belém do Grão-Pará. Radicado há mais de vinte anos em Tocantins, é figura presente em todos os eventos culturais surgidos e realizados neste Estado.

No próximo dia 27, Zacarias Martins estará lançando o livro “Pinga-Fogo”, às 20 horas, no Centro Cultural Mauro Cunha, em Gurupi, como parte das comemorações alusivas aos cinco anos de fundação da Academia Gurupiense de Letras, da qual é vice-presidente. É fácil desconfiar que a maior parte da obra de Zacarias Martins é obra esparsa, distribuída por jornais, revistas, antologias, folders e avulsos outros. O quase difícil é acreditar que, ainda assim, ele já tenha boa obra poética solo publicada, da qual se pode destacar “Transas do Coração”, “O Poeta de Belém”, “Poetar”,O Profeta da Felicidade” e “Vox Versus”. Além disso, há reportagens, festivais, shows, CDs; tudo por ele realizado, com ele à frente ou com destaque forte de sua participação.

A poesia de Zacarias Martins é simples, singela, e aborda o cotidiano de todos nós. Não inova, não traz novidades, embora, por vezes, surpreenda com verdadeiros achados. “O Aniversário” é um caso típico. A gente lê o pequeno poema e acompanha a declaração que é tão comum: os cumprimentos natalícios para uma pessoa querida. De repente, a surpresa: a pessoa querida é... a máquina de escrever. Só então a gente se dá conta: o autor é um escritor.

Mas o detalhe que mais assoma, se destaca em alto grau, é o lado irônico, debochado até, da escritura de Zacarias Martins. Não um deboche no sentido de ofender, machucar, mas no sentido de provocar o riso, demonstrar o ridículo de certas atitudes, tipos ou ações humanas. É a caricatura plena, no que o autor é mestre. Nesse sentido, por exemplo, é de se ler e reler o “Decálogo do Bom Político”. O agir dos nossos políticos, a fala, os gestos, o modo de ser, tudo está ali, em síntese, sem tirar nem pôr, provocando risos do começo ao fim, desvendando a artificialidade e, assim, sugerindo reflexões sobre a verdadeira e honesta prática política. Ridicularizar ainda é um bom caminho para a correção.

Mais que tudo, porém, Zacarias Martins é um ativista cultural. Em tudo o que realiza e faz, ele provoca e agita. Não pára quieto, eu já disse, é um agito só. Onde há sinal de alguma possibilidade intelectual, ou de sua manifestação, lá está ele. Em não havendo, provoca-a. Afirmo isso, pois que tenho lhe acompanhado as andanças por escolas, clubes, academias. Tudo é pouco.

Este é o lado que mais me impressiona. Sou parado, quieto, recluso. Perdi arroubos, desencantei-me. Mas não deixei de admirar quem aos arroubos se entrega. Isto me impressiona e admira de tal modo que, em outra ocasião, já escrevi sobre Zacarias Martins. Sua atividade e sua espontaneidade estão fazendo com que Gurupi e o jovem Estado do Tocantins se tornem mais conhecidos por este Brasil afora.

É assim. Falou Cultura, lá está o Zacarias... o Mano Zaca. Não importa o chão, não importa o ângulo, não importa o prisma, nem o lugar; mas o Tocantins em primeiro. (Nelson Hoffmann)Publicado no jornal

"O Girassol", de Palmas (TO), edição de 17/11/2004

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